Texto e fotos: Beto Seabra
Após a aprovação do PPCUB, o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, pela Câmara Legislativa, começou um debate nas redes sociais e na imprensa sobre os prejuízos que as mudanças contidas na proposta podem trazer para a preservação de Brasília.
Por ser patrimônio arquitetônico e artístico mundial, a capital federal não pode ser tratada como uma cidade qualquer. Qualquer mudança em sua ocupação urbana deve seguir parâmetros internacionais para sítios tombados e, principalmente, o plano original pensado por Lúcio Costa.
Sabemos que o tema está em disputa na arena da opinião pública. Os defensores do PPCUB na forma como foi aprovado falam em “desengessar” a cidade e permitir que ela cresça. Lembram que Brasília mudou muito em seis décadas e que as alterações propostas querem apenas atualizar o projeto pensado por seus idealizadores.
Já os críticos afirmam que construir mais seria colocar em risco o título de Patrimônio da Humanidade, alcançado nos anos 1980. E lembram que Lúcio Costa pensou Brasília de forma única e que as mudanças contidas no PPCUB poderão fazer desmoronar um delicado projeto onde tudo foi pensado, inclusive suas reformas.
Não sou técnico nem político. Mas moro em Brasília desde sempre e gosto muito de caminhar por minha cidade. Já devo ter dado o equivalente a uma volta ao mundo andando por suas ruas, avenidas e quadras. E sabe o que mais vi nos últimos anos? Prédios abandonados. E não são dois ou três, são dezenas. Se contar direito, serão centenas. Não seria melhor aproveitar esses lugares largados antes de pensar em edificar mais alguma coisa em nossa cidade?
Lojas fechadas
Diz um amigo que conhece melhor do que eu as entranhas do Distrito Federal que as lojas fechadas se acumulam feito teias de aranha em um castelo abandonado. E que daqui a pouco, com o crescimento dos hábitos que levam as pessoas a usarem cada vez mais as próprias casas para servirem de restaurante a cinema, mais lojas serão fechadas e a cidade monumento poderá virar uma cidade fantasma. Será?
Mas concordo que é mais urgente pensar em como reocupar os lugares vazios do que levantar novas paredes.
Algumas cidades como Recife e Buenos Aires transformaram antigas regiões abandonadas em verdadeiros cartões postais. E Brasília poderia começar por revitalizar a W3 Sul, que já foi a avenida mais importante da cidade, antes de pensar em construir novos prédios em áreas verdes ou aumentar o gabarito das áreas já construídas.
Mesmo sendo uma cidade nova e a única construída no século XX tombada como patrimônio da humanidade, Brasília está precisando, sim, de uma reforma. Mas não uma que coloque em risco o que já foi feito, mas que revitalize o que se desgastou nesses mais de sessenta anos de existência.
E não custa lembrar que o segundo P da sigla PPCUB significa preservação. Então vamos preservar Brasília antes de pensar em fazer qualquer outra coisa.
Prédios em ruína tomam conta da paisagem
O W3 Jornal fez um rápido levantamento sobre prédios abandonados em Brasília. Em apenas uma manhã encontramos nove prédios, públicos e privados, que estão completamente abandonados, parcialmente ocupados ou desocupados à espera de quem os ocupe.
A foto abaixo é do que um dia foi o famoso Torre Palace Hotel, localizado no Setor Hoteleiro Norte. Hoje é um esqueleto urbano onde se acumulam sujeira. Enquanto o PPCUB permite que hotéis mais altos sejam construídos na região, um dos mais altos e mais antigos da cidade já virou ruína. Será que precisamos de mais prédios?
Prédios públicos e privados fechados e que aguardam uma decisão do poder público:
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