Sim. Há esperança para a crise humanitária em Gaza
Que situação é essa que o mundo vê acontecer no Oriente Médio? O que se passa com as pessoas na Palestina e em Israel? Que consequências podem ser enfrentadas? Essas são questões que movem as sociedades dos quatro cantos do mundo que acompanham o massacre vivido em Gaza.
A crise no chamado Oriente Médio, que abrange Israel e Palestina, perdura desde a primeira metade do século passado. Um fato recente reacende a situação de tensão nessa região: o ataque do grupo anticolonialista Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou extasiada a população mundial. Mortes, ferimentos e o aprisionamento de civis e militares geraram comoção e revolta. A reação imediata de Benjamin Netanyahu à violência provocada pelo Hamas teve rápida aceitação da opinião pública, com forte apelo midiático, não levando em consideração as consequências contra a população palestina, especialmente mulheres, crianças, pessoas não combatentes. Os números são alarmantes.
Observa-se, hoje, a mudança de percepção da opinião pública sobre o massacre contra pessoas em Gaza. O quadro é complexo. O drama vivido pela população palestina é crescente. E não se pode desconsiderar os efeitos psicológicos que essa situação provoca nos israelenses e em muitas outras populações que, sem acesso a informações claras sobre tudo isso que acontece em Gaza, banalizam a morte, a fome e o sofrimento de seres humanos na Palestina.
Para compreender um pouco essa situação, Ana Lúcia Medeiros conversou com o embaixador Tadeu Valadares, que vai falar sobre a crise humanitária na Palestina e sobre os efeitos dessa situação insana que se instalou há mais de cinco meses no Oriente Médio com números alarmantes e graves consequências. O que se pode antecipar da fala do embaixador é que ele vê luz no fim do túnel. Não sabe precisar em que momento as coisas vão se reconfigurar. Mas acredita que, apesar das mortes e de tantas feridas, há perspectiva de que as pessoas que sobreviverem a tudo isso resgatarão a dignidade.
Acompanhe a entrevista. Boa leitura!
W3 – Em 7 de outubro de 2023 observou-se o imediato apoio da opinião pública ocidental aos ataques do governo Benjamin Netanyahu contra a população palestina em reposta à incursão armada das forças anticoloniais que operam a partir de Gaza. Levando-se em conta sua vivência como embaixador, que forças contribuem para a formação da opinião pública a essa resposta de Israel contra a vida de pessoas comuns da sociedade civil palestina, com drásticas consequências, e que parece longe de terminar?
Tadeu Valadares – No caso da operação realizada em 7 de outubro passado pelo Hamas e outros grupos que lutam de armas na mão contra Israel a partir de Gaza, a opinião pública mundial, mas sobretudo a ocidental, reagindo 'em cima do lance' se solidarizou com o estado e a sociedade israelenses. Isso, com base nas informações imediatamente disponíveis, fornecidas de maneira descontextualizada pela grande mídia, em especial a televisiva. Não esquecer de que o resultado da incursão relâmpago dos grupos armados palestinos foi a um só tempo surpreendente e traumático: a morte de ao menos 1.200 israelenses, entre militares e civis, ferimentos em mais de 3.300 e o aprisionamento de mais de duas centenas de militares e civis. Hoje, ao menos 129 israelenses continuam sequestrados na Faixa de Gaza.
Principais fatores que contribuíram para a progressiva mudança da opinião pública, processo ainda em curso: a reação desproporcional do governo de Israel – a declaração de estado de guerra e de tudo que ele permite– e a consequente concretização da estratégia de terra e população arrasadas sistematicamente encetada pelas forças israelenses. Não esquecer de que, para tentar destruir o Hamas e todas as outras organizações que realizaram a incursão do dia 7 de outubro, Israel está levando a cabo uma gigantescaoperação de guerra, pontilhada por massacres e pela pavorosa transferência da população civil do norte da Faixa de Gaza em direção à fronteira com o Egito. Até 23 de março, os militares israelenses eliminaram número impreciso de combatentes palestinos, mas essa operação vitimou, como 'danos colaterais', pelo menos 31.988 civis, 2/3 deles mulheres, crianças e idosos. As imagens, fotos, vídeos, etc., atualizadas diariamente, tiveram como efeito, creio que menos de um mês depois de iniciado o que para os civis é um massacre continuado, essa mudança de perspectiva da opinião pública. Tal ‘mudança de sentimento’ vem ocorrendo tanto no Ocidente (América do Norte, Europa, Oceania e mais) quanto no chamado Sul Global (África, Ásia e América Latina). Essa decisiva mudança na dinâmica da opinião pública internacional foi a primeira grande derrota do estado sionista.
W3 – Como fazer entender, em poucas palavras, o que está por trás do ataque do Hamas a Israel e o imediato apoio do mundo ocidental à brutal reação de Benjamin Netanyahu?
Tadeu Valadares – Em poucas e insuficientes palavras: por trás da operação conduzida pelo Hamas está a realidade chocante que é Gaza, pequeno território do tamanho, mais ou menos, do município de Belo Horizonte. Em Gaza, desde junho de 2007, vivem totalmente cercados mais de 2 milhões de palestinos. Vida vivida de maneira isolada, oprimida e precária, no que muitos analistas, um deles o crítico social ativista americano Noam Chomsky, veem como o maior campo de concentração a céu aberto do mundo. Para entender o imediato e permanente apoio dos estados que constituem o chamado mundo ocidental, há sobretudo que levar em conta o fato geopolítico principal: desde 1948, quando foi criado pela ONU, mas especialmente desde a guerra de 1967 – quando passou a ocupar territórios extensos nos quais deveria ser erigido o estado da Palestina –, Israel é o mais seguro aliado dos Estados Unidos, dos países que integram a OTAN e dos que fazem parte da União Europeia nessa área extraordinariamenteestratégica chamada Oriente Médio.
W3 – O mal escancarado em Gaza funciona como o espetáculo midiático, tão ao gosto da sociedade, citando aqui Guy Debord na metade do século passado, em suas reflexões sobre a sociedade do espetáculo. Apesar de todo esse fascínio que a mídia exerce, é possível vislumbrar uma mobilização popular que, efetivamente, contribua para o fim da crise humanitária na Palestina?
Tadeu Valadares – Isso é o que está acontecendo. O espetáculo permanente, diariamente apresentado via grande mídia e muito da indústria cultural, tem como efeito imediato e cotidiano fortalecer o chamado senso comum, uma visão acrítica de mundo, fragmentada e no essencial conformista. O problema é que esse mesmo espetáculo está obviamente vinculado em diversos graus a algo que o bom senso, categoria oposta ao senso comum, chama de realidade efetiva. Como espetáculo e realidade não convergem, e como a realidade da vida tem peso sobre a vida como espetáculo, o resultado é a meu ver a corrosão, em determinadas circunstâncias e por pequena que seja, do mundo ilusório que nos é servido pela grande mídia todos os dias. A mobilização popular contra a guerra de Israel em Gaza, exemplo forte de crescimento do bom senso em oposição ao que faz a mídia corporativa, vendedora de falsos consensos. Mobilização popular e mídia corporativa, importante não esquecer, têm dimensão planetária. O fortalecimento desse processo de rechaço à guerra já está contribuindo significativamente para, no prazo curto, a superação da crise humanitária, o horror cotidiano vivido pelos de Gaza. No longo prazo, também terá peso importante, quando se revele capaz de forçar as grandes potências que impõem os rumos gerais do sistema internacional a elaborarem novas tentativas de superação do jugo colonial imposto aos palestinos, coisa que já dura mais de um século.
O que começou com a dominação inglesa no início do século XXcontinuou, a partir de 1948 e da Nakba, como dominação, também de caráter colonial, de Israel. Só haverá possibilidade de paz entre israelenses e palestinos depois que dominação colonial for superada. E para isso ninguém pode fixar data e forma precisas.
W3 – Sua leitura sobre o papel da mídia nesse processo inclui as dinâmicas das redes sociais, pelo potencial de difusão de informações, inclusive da desinformação, com alcance também no Brasil?
Tadeu Valadares – Nesse contexto amplo, o da cobertura da guerra contra a população de Gaza, é que a meu ver funciona tanto a mídia corporativa conservadora, geradora de 'consenso', quanto a mídia alternativa de caráter crítico. A complexidade da situação é tanto maior porquanto outro fenômeno maciço, o da difusão, de maneira cada vez mais sofisticada, de fake news, alcança todas as mídias. Todas, sim, mas de forma bem mais sofisticada a grande mídia liberal conservadora. Menos exposta a essa desgraça seu combativo oposto, a mídia alternativa de esquerda. O mais grave em tudo isso: o domínio e a exploração de fake news constituem um campo de atuação especializada da extrema direita em todas as suas variantes.
No que diz respeito à guerra de Israel contra a população de Gaza, fácil perceber quem está envolvido em transformá-la, via solidariedade mecânica ou orgânica com o governo de TelAviv, em recurso eleitoral voltado para reforçar o que há de pior, em matéria de 'atraso ideológico brasileiro' como sinônimo de barbárie.
Na sociedade brasileira vige forte sobrevivência do escravismo colonial e imperial, o bárbaro atraso oligárquico que permeia com pesos distintos toda a estrutura social. Esse fenômeno se manifesta desde o solo constituído pelas massas desorganizadas ou doutrinariamente enquadradas por teologias reacionárias, até o topo da pirâmide, o conformado por amplos setores da classe média alta e do grande empresariado, parte deles falsamente iluminista, parte deles protofascista.
W3 – Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o massacre em Gaza já vitimou, entre mortos, feridos e desaparecidos, mais de 100 mil pessoas. A maioria são civis palestinos não combatentes, especialmente mulheres, crianças, idosos e jovens. De outro lado, vemos a população israelense, mergulhada em um contexto de graves efeitos psicológicos. Que universo é esse no qual vivem a sociedade e o estado israelenses, cujas características se replicam em corações duros e hostis ao redor do mundo e como tentar frear esse avanço do mal, do ódio, da perda de limites contra pessoas indefesas, a exemplo do que se vê na Palestina?
Tadeu Valadares – Comecemos com dados objetivos: quase 32 mil palestinos, em sua absoluta maioria crianças, mulheres e idosos, foram mortos até agora. Sete mil estão desaparecidos, tudo indica corpos sob escombros. E cerca de 71 mil estão feridos. No total, portanto, algo como 110 mil palestinos são vítimas da guerra que lhes é imposta por Israel.
Quanto à avaliação da sociedade e do estado israelenses atuais, crucial rechaçar análises que privilegiam sentimentos tais como ódio, mal encarnado, maniqueísmo como visão de mundo. O risco desse tipo de análise em última instância de caráter entre criminoso e passional é, no limite ou bem antes dele, demonizar o outro.
No caso de Israel e em relação aos judeus, o perigo é óbvio: quem se pensa crítico acaba, por ignorância no melhor dos casos, violando uma linha vermelha civilizacional. Em geral esse tipo de 'crítico' passa do antissionismo, posição que comparto e que considero perfeitamente legítima no debate político-ideológico, ao antissemitismo, uma das manifestações históricas mais brutais de racismo, desde seu início racismo tendencialmente genocida. Esse fenômeno de massa originado na Europa do século 19 continua e volta a se fortalecer entre nós e no mundo. A barbárie total, antissemita, encarnada no nazismo alemão e na 'solução final para o problema judeu' adotada por Hitler a partir de 1941 deve servir de alerta constante.
Tendo isso em conta, prefiro tentar entender o que hoje se passa em Israel com base numa visão mais sociológica. Para tanto há que levar em conta a própria história israelense, essa que se inicia em 1948 com a operacionalização da catástrofe imposta aos palestinos, a Nakba como destruição e expulsão massivas.
O que começou com a Nakba terminou por se constituir em situação cada vez mais trágica, mais sem saída. Essa tragicidade e o impasse que se mantém há 74 anos no referido à questão palestina a meu ver cristalizaram a psicologia de massa do estado de Israel. Esse sentimento de mundo tem relação estrutural com o que os chamados novos historiadores israelenses, Ilan Pappe e outros e outras, consideram o que de fato define o sionismo hoje: a engenharia social, militar e ideológica bem-sucedida da qual resultou um estado e uma sociedade que caem sob a categoria 'colonialismo de povoamento'. Traço fundamental e insuperável desse colonialismo de povoamento: uma variante específica de regime de 'apartheid' que de certa forma (às vezes inclusive de forma pior ainda) lembra o que existia na África do Sul dominada pelos 'Boers' de 1948 a 1994, quando – ao final de uma guerra de libertação nacional– Nelson Mandela se tornou presidente.
W3 – O que significa, em termos práticos, o “Novo Oriente Médio” proposto meses atrás à ONU, pelo governo Netanyahu, no qual inexiste a Palestina? Isso motiva a atrocidade, uma limpeza étnica, a eliminação da população de Gaza?
Tadeu Valadares – O chamado "Novo Oriente Médio' é a tentativa, iniciada pelos Estados Unidos e Israel ainda na década de 1990, de criação de uma série de acordos que promovessem interações econômicas, comerciais, financeiras, científicas e tecnológicas capazes de reestruturar a malha geoeconômica e geopolítica da região. Sua concretização maior, os acordos de Abraão, instrumentos já firmados por Israel com Marrocos, Egito, Emirados Árabes, Bahrein. As negociações com a Arábia Saudita estavam progredindo, e esse quinto acordo seria decisivo para a criação do 'Novo Oriente Médio'. Em 22 de setembro passado, duas semanas antes da operação do Hamas, Benjamin Netanyahu apresentou na ONU o mapa do Novo Oriente Médio. Nele não havia traço da Palestina. nele só havia espaço para o Grande Israel.
W3 – O discurso de paz propalado por Lula pode provocar ecos no mundo ocidental, contribuindo para o fim do massacre em Gaza?
Tadeu Valadares – As falas de Lula provocam muito mais do que ecos. O Brasil é uma das 'grandes potências médias'. O Brasil é, portanto, um ator internacional relevante. E Lula, sorte nossa, é liderança de fato reconhecida em termos globais. Ou seja, o Brasil é um estado estruturalmente importante no plano internacional, e a esse dado estrutural se soma o fato de termos Lula como líder de um país em nítido processo de reconstrução.
Daí que as falas presidenciais em favor da paz tenham efeito positivo não apenas na América Latina e no Ocidente. Conquanto não decisivas, e nenhuma dessas falas, inclusive as do Papa Francisco, decide a questão da guerra e da paz, as intervenções de Lula emitem sinais claros de que o Brasil está atuando positivamente tanto no relativo à guerra contra Gaza quanto no concernente à guerra russo-ucraniana. Lula decerto afirma, confirma e tenta expandir o poder que temos, o chamado poder suave, 'soft power'. Poder, claro, realisticamente delimitado.
W3 – Estariam os Estados Unidos do século XXI reiterando o discurso armamentista de Franklin Roosevelt da primeira metade do século passado?
Tadeu Valadares – A história não volta atrás. Comparações diretas tendem a ser inadequadas. O discurso armamentista de Roosevelt era feito noutro contexto, o mundo da II Guerra Mundial. O discurso armamentista, hoje, não é só dos Estados Unidos, sim dos Estados Unidos e de todos os integrantes da OTAN, e de seus 'parceiros externos', Coreia do Sul, Japão, Austrália, etc. Também compartilhado pela China, pela Rússia, pela Índia. O que se observa, entretanto, é que a ordem-sistema internacional entrou numa época de transição de hegemonia, dadas a ascensão da China e a recuperação da Rússia como grande potência. Isso indica que vivemos e viveremos um período longo, marcado por tensões agudas e conflitos bélicos localizados que sempre arriscam se expandir. Nessas épocas de transição, motivos para grandes conflitos são mais e mais presentes. O risco maior, hoje, é que uma ou mais de uma das verdadeiramente grandes potências, EUA/OTAN de um lado, China de outro, Rússia e China vivendo o momento da amizade sem limites, não consigam administrar "racionalmente' o choque dos grandes interesses. Isso pode levá-las a recorrer à guerra convencional que facilmente pode se tonar nuclear. O pano de fundo de tudo isso aparece como o inevitável final da hegemonia americana iniciada ao término da II Guerra, hegemonia que se tornou unilateral somente na década de 1990, desaparecida a União Soviética. Hoje, o unilateralismo é um tigre de papel.
W3 – Há perspectiva de que o povo palestino sobreviva aos massacres dos quais é vítima? Em caso positivo, sairá fortalecido, resiliente, ou suscetível a danos psicológicos sem cura?
Tadeu Valadares – Única certeza minha: o povo palestino sobreviverá aos massacres de Gaza. Impossível sequer pensar que genocídio completo ou expulsão total da população palestina de Gaza pertença à órbita do real. A meu ver, a guerra que o povo palestino enfrenta hoje começou um século atrás, quando, sob o mandato britânico, se iniciou a resistência aos colonialistas britânicos e aos colonos judeus. Com a criação de Israel via ONU e a decorrente guerra de 1948, a luta continuou, subiu de plano.
Para mim, o povo palestino em Gaza, na Margem Ocidental no interior de Israel de 1967 e na diáspora não é extirpável. O mesmo se aplica ao povo judeu em Israel e no mundo. Nesse contexto de sobrevivência, nunca esquecer que Israel dispõe de armamento nuclear como garantia última.
O decisivo, no entanto, é que o colonialismo de povoamento não tem como persistir; e que, em decorrência, o 'apartheid' sionista está historicamente condenado. Mas isso é pensar no tempo longo de caráter estrutural, no tempo multigeracional. Em suma: se levamos em conta todos esses planos, a vitória palestina virá. Quando? Ninguém sabe. Sob que forma? Também não sabemos.
Não antevemos que tipo de Estado palestino se conformará, que tipo de Estado de Israel substituirá o atual, colonial de povoamento com apartheid, que outro Oriente Médio isso tudo haverá de produzir. Os danos psicológicos que se abatem sobre os palestinos em Gaza, na Margem Ocidental e no mundo da diáspora são graves. Para muitos, não há recuperação possível.
Mas isso não é de hoje. A gente em geral não sabe, mas o povo palestino sofre repressão maciça, com danos psicológicos imensos, desde ao menos a chamada Grande Revolta dos anos 30 do século passado, quando enorme exército britânico, ajudado pelas milícias sionistas de então, inclusive a Haganah, foi vitorioso. A resiliência do povo palestino é infinita, creio. Daí que sua vitória, por difícil que hoje pareça, está inscrita no futuro, destinada a ocorrer neste século.
W3 – Qual o papel da grande revolta árabe da década de 1930, cuja repressão vitimou cerca de 10% da população nativa, no atual momento que vive a população palestina?
Tadeu Valadares – De certa forma essa pergunta foi respondida acima. As revoltas, essa e todas as outras, com suas dimensões variadas, formaram o cerne da resistência palestina e, de alguma maneira, construíram o povo. Essa vitória, não importa o que ocorra agora e o que venha a ocorrer no futuro imediato e no prazo mais longo, é inevitável.
W3 – Como embaixador aposentado, o que dita o seu coração em relação às lutas de populações massacradas por grandes impérios e o que essas suas memórias podem lançar como perspectiva para o fim do sofrimento para o povo palestino?
Tadeu Valadares – Se não me engano, é Hegel que estabelece a diferença entre os votos do coração e o curso real do mundo. No fundo, a oposição entre o que nossa esperança quer ser como forma de vida e o que o mundo como conjunto de estruturas com dinâmica própria e perversa nos permite. A busca por um 'mundo melhor', 'mundo alternativo', como se queira chamá-lo, é constante no seio das sociedades antagônicas originadas da Modernidade. E todas as sociedades atuais são antagônicas.
Mas como dizia o grande romancista paraguaio Roa Bastos: 'No futuro a gente entra de costas'. Daí que não me atreva a expor rumos para o mundo, eu que nem mesmo no plano existencial consigo traçar rotas certas e seguras. Mas apesar de todo o indiscernível, algo me parece assegurado. Enquanto as promessas de libertação
continuarem sendo apenas promessas, valem as palavras de Terry Eagleton: "O fato de nossas desgraças serem em grande medida sistêmicas é, de certa forma, motivo de desespero, já que pode ser extremamente difícil mudar os sistemas.Mas também é motivo de esperança'.
Em outras palavras, e concluindo nosso papo, bom voltar a Camus: é necessário imaginar Sísifo feliz.
Acreano, Tadeu Valadares iniciou a carreira diplomática em 1971. É formado em Administração, tem Mestrado em Sociologia (UnB) e Diploma de Estudos Aprofundados em Sociologia das Relações Internacionais na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris).
Na trajetória diplomática, cumpriu missões em Brasília, Paris, Maputo, Assunção, Washington, Costa Rica, Uruguai e Bolívia. Como embaixador, chefiou as missões brasileiras em Bucareste, São José (Costa Rica) e Doha (Emirado do Catar).
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Entrevista excelente. Profunda e sem lançar mão de achismos.