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Ana Lúcia Medeiros

Institutos Federais completam 115 anos e mudam realidade no mundo do trabalho

Atualizado: 5 de out.

Criadas em 1909 por Nilo Peçanha, único presidente negro do Brasil, escolas técnicas se multiplicaram nos governos Lula, chegando a 685 unidades que já formaram cerca de 1,5 milhão de pessoas em diversas áreas


Por Ana Lúcia Medeiros


Casa Rosada: prédio histórico, sede da Reitoria do Instituto Federal da Paraíba

Era o ano de 1909 quando o Brasil teve o primeiro e único presidente negro.  Nilo Peçanha assumiu a presidência da República após a morte do presidente Afonso Pena. Ficou apenas um ano e cinco meses no Palácio do Catete. Tempo suficiente para assinar o Decreto 7.566 de seu antecessor, dando origem a um sistema educacional destinado aos “filhos dos excluídos e da classe trabalhadora”.

 

Filho de padeiro, Nilo Peçanha era formado em Direito e defendia que “um povo ignorante, sem preparo técnico e profissional não poderia usufruir das conquistas democráticas do país. Permaneceria escravizado e presa fácil de aventureiros e demagogos”.

 

Foi assim que levou a 19 unidades da Federação as Escolas de Aprendizes Artífices, de ensino profissional primário e gratuito, formando carpinteiros, alfaiates e sapateiros. Os cursos de alfaiaria eram os mais procurados e prepararam grandes nomes da alfaiataria brasileira, que definiam com precisão o corte das roupas da high society.

 



Exposição de alunos do Curso de Alfaiataria Foto: Medeiros. Publicada na tese de Luciano Candeia

A partir daí, começava a se desenhar um perfil de escola voltada para o mundo do trabalho.  Pouco a pouco, o nome da instituição foi se modificando, consequência de novas formas de atuação pedagógica e administrativa. Já foi Escola Industrial (Liceu); Escolas Técnicas Federais (ETFs), consolidando o ensino técnico; Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), que deram início aos cursos de nível superior.

 

As adequações realizadas ao longo das décadas certamente contribuem para o desconhecimento que a sociedade ainda tem em relação à instituição, cuja experiência se revela positiva nesses 115 anos de existência.

 



Nilo Peçanha criou as primeiras escolas técnicas do Brasil

Crescer em rede

Formado em um curso técnico de torneiro mecânico, o operário Luiz Inácio Lula da Silva, ocupando o cargo de presidente da República, institucionaliza, em 2008, a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

 

O decreto de criação da Rede não apenas muda a nomenclatura, mas traz o compromisso de que metade das matrículas ocorra em cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, fortalecendo a vocação de formar os adolescentes, enquanto amplia a oferta de cursos de Licenciatura para 20% das matrículas.

 

A nova configuração estende o campo de atuação das instituições, aumentando a quantidade de cursos na modalidade a distância e também as pós-graduações. Também proporciona o ingresso de milhares de pessoas sem ensino fundamental em turmas de qualificação profissional, a exemplo do Programa Mulheres Mil, voltado para mulheres em vulnerabilidade social. 

 

Hoje, são 685 unidades que formam a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. O número de alunos e alunas somam mais de 1,5 milhão. A previsão é que esse número aumente nas 27 unidades da Federação. Isso porque o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marcelo Bregagnoli, anunciou a construção de 100 novos institutos com a abertura de 140 mil novas vagas em todos os estados. O anúncio faz parte do olhar cuidadoso do operário-presidente Lula que, em 2024, persiste no propósito de oferecer educação pública de qualidade e gerar oportunidades.   

 

Crescer para dentro e para fora do país

 

Em 2024, o perfil de atendimento da Rede continua voltado para a camada mais fragilizada da sociedade. Os índices da Plataforma Nilo Peçanha apontam que a grande maioria dos matriculados vem de famílias com renda per capita mensal inferior a 1,5 salário mínimo.

 

A presença da educação profissional nas pequenas cidades impulsiona economias locais, fixa jovens na terra natal, gera oportunidade de estudantes participarem de atividades de pesquisa e a extensão.


Enquanto aumenta a presença em todas as microrregiões, saindo da concentração inicial nas capitais, a Rede fortalece os projetos de internacionalização. Segundo dados do Conselho Nacional das Instituições da Rede (Conif), são mais de 45 países com os quais as instituições mantêm parcerias em intercâmbios e mobilidade acadêmica. Os projetos, no geral, estão focados na resolução de problemas das comunidades de origem dos estudantes.

 


Écio Duarte: professor e poeta

Diferencial

 

As chamadas áreas duras, como as engenharias, química, física e matemática, não impedem que os universitários tenham formação humana, que pensem no essencial, nas questões fundamentais da vida, na existência. Para os IFs, essa é uma lógica adotada como princípio básico na formação dos estudantes.  E isso se pode observar a partir do perfil das pessoas que fazem a instituição.

 

O professor Écio Duarte, do Instituto Federal de Goiás (IFG), é um dos tantos exemplos do perfil plural do corpo docente dos IFs. Além de poeta e músico, Écio Duarte tem formação acadêmica em engenharia mecânica, com mestrado, doutorado e pós-doutorado na área.

 

A trajetória artística inclui publicações, participação em coletâneas de poemas e incursões na música, com gravações em parceria com músicos brasileiros, como Dércio Marques e Paulinho Pedra Azul. Atividades realizadas paralelamente a funções de reitor, pró-reitor, pesquisador e professor no Instituto Federal das várias regiões onde atuou no país.

 

O álbum "Aos Pares", indicado ao Grammy Latino de 2022, rendeu-lhe o prêmio Jaburu na categoria musical. O livro "Precisão de Precipícios", obra mais recente, transita entre a precisão da engenharia e a fluidez da música e da poesia. Écio Duarte entende que, organicamente, a matemática está muito próxima da poesia, do ponto de vista neurológico.

 



Ellen Souza lança livro de ensaios filosóficos ao lado do professor Emmanoel Rufino

Contabilidade e poesia

 

De outra região do país, mas com a mesma percepção do professor Écio Duarte sobre a importância de uma formação humana, Ellen Souza, ex-aluna do curso técnico em Contabilidade do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), reconhece essa capilaridade dos Institutos Federais.


“Lá dentro, fui surpreendida com um ensino que contribuiu para minha formação humana e social. Participei de grupos de pesquisa, escrevi artigos científicos e, incentivada por meu professor Emmanoel Rufino, publiquei um livro de poesia", disse Ellen. E completa: "tudo isso  foi um divisor de águas na minha percepção como estudante e como pessoa. Muito de quem sou hoje, e de quem quero ser como profissional, devo a essa instituição que mostra o que a educação pública pode gerar”.


Estudante do 4º período do curso de Medicina, Ellen Souza é bolsista do Prouni (Programa Universidade Para Todos), que conseguiu graças à trajetória no Instituto Federal. Com isso, nada paga para frequentar uma faculdade particular destinada a pessoas com alto poder aquisitivo, e não a pessoas em vulnerabilidade social, como ela.

 

*Com informações do IFB e do IFPB



 

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4 Comments

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Guest
Sep 30
Rated 5 out of 5 stars.

Na contramão, a direita oferece o insano "escola cívico militar". Sinistro!

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Guest
Sep 30
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É verdade.

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Guest
Sep 28

São apaixonantes! Uma instituição verdadeiramente singular.

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Guest
Sep 27
Rated 5 out of 5 stars.

Bela matéria! Um viva aos nossos Institutos Federais!

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