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Ana Lúcia Medeiros

DENGUE - A situação alarmante no Distrito Federal exige atenção e ações integradas



Era final do século XIX quando surgiram os primeiros casos de dengue no Brasil. Os registros foram feitos em Curitiba e, em seguida, já no início do século XX, em Niterói, no Rio de Janeiro. Ou seja, nas regiões Sul e Sudeste do país.


Ao longo do século XX os registros de casos de dengue se concentraram mais nas regiões Norte e Nordeste. Esse dado se explica pelas condições precárias de saneamento básico nessas duas regiões. 


Na segunda década do século XXI, uma nova situação surpreende a população e  passa a ser objeto de estudo de pesquisadores: em 2024, a maior parte dos casos de dengue, inclusive de óbitos provocados por infecção pelo Aedes aegypti, se concentra nas regiões Centro Oeste e Sudeste.


De acordo com o painel de monitoramento do Ministério da Saúde, o Distrito Federal, Minas Gerais e o Espírito Santo são as unidades federativas com maior incidência de dengue por habitante. Ou seja: O DF é um dos líderes da epidemia no país, chegando a registrar dez vezes mais casos do que no restante do Brasil. O que explica isso? Especialistas identificam algumas causas para esse deslocamento da manifestação da doença.


Na perspectiva do pesquisador Christovam Barcellos, a degradação ambiental é um dos fatores que contribuem para a expansão da doença no Cerrado. Em seus estudos desenvolvidos no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre os quadros atuais de saúde no Brasil, Barcellos observa que esse avanço da dengue em regiões como o Centro-Oeste brasileiro está diretamente associado ao aumento de temperatura e ao acelerado desmatamento. O pesquisador analisa que no Cerrado há cidades que já têm ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com condições de saneamento inadequadas, tornando mais difícil o combate ao mosquito.

A degradação ambiental é um dos fatores que contribuem para a expansão da doença no Cerrado

Entre as causas ambientais emergentes apontadas por Christovam Barcellos, um aspecto merece destaque: o saneamento básico. Mas como o avanço da doença poderia estar associado a saneamento básico inadequado no Distrito Federal, cuja renda per capita é 77% maior que a média do país, segundo dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)? Na capital do país, o indicador alcança R$ 3.357, enquanto o indicador nacional fica em R$ 1.893.  No Maranhão o índice é ainda menor: R$ 945.


A explicação pode estar no fato de que saneamento básico não diz respeito apenas às condições de esgotamento sanitário. Trata-se de um conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico de um lugar. Segundo o professor de Arquitetura, Fúlvio Teixeira, saneamento básico está relacionado a um conjunto de itens que contribuem para a boa qualidade de vida da população: “fatores como barulhos gerados por automóveis e motocicletas, ausência de estacionamentos, precariedade do transporte coletivo, manutenção da limpeza das ruas, coleta do lixo, qualidade do ar,  índices urbanísticos, como recuos construtivos, taxa de ocupação e aproveitamento regulados por lei  ocupam papel fundamental na avaliação do que pode contribuir para que a cidade ofereça boas condições de habitação”, explica o arquiteto.


Observa-se, portanto, a complexidade da explosão de casos de dengue no Distrito Federal, onde foram registradas mais de 100 mortes pela doença nos três primeiros meses de 2024. O cenário é preocupante, apesar da tendência de queda no número de casos anunciada recentemente pelo Ministério da Saúde. Ao anunciar a diminuição de casos, em entrevista coletiva realizada no último dia 2 de abril, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, alertou também que é necessário manter o acompanhamento e o incentivo para que a população continue a adotar cuidados básicos, já que o mosquito permanece infectando pessoas.


O alerta de Ethel Maciel considera duas frentes no combate à doença. De um lado, a responsabilidade do poder público em assumir o controle na coordenação das ações de enfrentamento à epidemia; de outro lado, o papel da população em adotar medidas que impeçam o aparecimento de criadouros do mosquito em suas casas. Relatos de agentes de combate a endemias apontam que os focos do Aedes aegypti no geral são encontrados entre a cozinha e o quintal das residências, onde mais se concentram pontos de água parada, seja em pratinhos dos vasos de plantas, caixas d’água descobertas (ou com tampa quebrada), latas e pneus.

 

Maior PIB, maior investimento em saúde? Nem sempre....

 

Como encontrar resposta para essa questão se observamos a existência de problemas estruturais no DF?


Se adotarmos a lógica de que orçamento maior implica maior investimento, podemos inferir que o Distrito Federal é a unidade federativa que mais investe em ações que garantam a qualidade de vida da população. Dados recentes revelam que o GDF registrou o maior superávit orçamentário da história: R$ 2,59 bilhões.

A degradação ambiental é um dos fatores que contribuem para a expansão da doença no Cerrado

Os números oficiais da Secretaria de Economia (SEEC) foram apresentados à Câmara Legislativa do Distrito Federal em audiência pública realizada no último dia 21 de fevereiro. Com esses números, a prestação de contas e as metas fiscais do terceiro quadrimestre de 2023 apresentam um balanço histórico. Uma maravilha para a capital de maior PIB do país.

Mas como estão sendo feitos os investimentos nas áreas de infraestrutura, meio ambiente, saúde e educação, contribuindo diretamente para a qualidade de vida da população? Como encontrar resposta para essa questão se observamos a existência de problemas estruturais no DF? Se pessoas lotam os centros de saúde, gerando ainda mais contaminação por vírus e bactérias? Se a circulação do Aedes aegypti é alarmante? Se há focos de calor provocados pelo desmatamento que levam a mudanças climáticas? Como resolver isso? Há vontade política? Há implementação de projetos que efetivamente busquem melhorar a condição humana no ambiente urbano? Há adoção de um trabalho integrado entre a administração pública e a população?

 

Um modelo de sucesso que vem da Paraíba


Foto: Divulgação


A máxima de que “prevenir é melhor do que remediar” é garantia do sucesso no combate ao Aedes aegypti em uma pequena cidade do interior da Paraíba. A experiência positiva no controle da dengue na pequena Quixaba, a 281 quilômetros de João Pessoa, é simples: prevenção, planejamento e ações integradas. Segundo o secretário de Saúde do município, Davi Paz, “ao integrar saúde, infraestrutura, educação e assistência social, se consegue, de fato, envolver a população na campanha contra a dengue”. Com esse movimento, menos de 1% das residências do município apresentaram o mosquito da dengue em 2024.

No quadro a seguir, vemos como funciona o trabalho de prevenção, integração de secretarias e sensibilização da população local no pequeno município do Sertão paraibano. Uma experiência simples e exitosa.

Menos de 1% das residências do município de Quixaba apresentaram o mosquito da dengue em 2024

 

COMO FUNCIONA O TRABALHO INTEGRADO

 

O que faz a Secretaria de Saúde de Quixaba

 

✅Realiza o tratamento focal (larvicida) pelosagentes de endemias.

✅ Elimina criadouros do Aedes aegypti com busca ativa em todos os prédios do município.

✅Faz trabalho educativo na comunidade.

✅Realiza ações de do Programa de Saúde na Escola-PSE, em todas as escolas do município com apoio de agentes de Saúde, Endemias e profissionais da Equipe Multiprofissional do PSF.

✅Organiza caminhada e panfletagem.

 

Foto: Divulgação

Como age a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos de Quixaba

 

✅Mutirão de limpeza nos órgãos públicos e terrenos baldios no município.

 

Papel da Secretaria de Administração

 

✅Divulgação sobre a dengue e o combate à doença, alertando a comunidade com carro de som.

 

Ações da Secretaria de Educação

 

✅Palestras em Sala de Aula e atividade lúdicas e educativas para as crianças (Agente Mirim).

✅Utiliza como tema transversal nas aulas o combate ao Aedes Aegypti com material educativo.

 

Como a Secretaria de Desenvolvimento Social age de acordo com o contexto

 

✅Aborda o tema “Combate à Dengue e Eliminação de Criadouros nos domicílios” nas reuniões sobre as Condicionalidades do Bolsa Família.

 

O exemplo da pequena cidade do interior da Paraíba se contrapõe à realidade vivida na capital do país. São dois contextos distintos, lugares com Produto Interno Bruto em condições opostas. Mas o que se vê no exemplo da cidade desconhecida de apenas dois mil habitantes é que é possível lutar contra condições adversas. Para isso, basta desenvolver ações com planejamento, integração e propósito. No caso específico do combate ao mosquito da dengue, a experiência exitosa pode ecoar para além dos rincões do país, contribuindo com a qualidade de vida de cidadãos, não importa de que região do Brasil.


           

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