Texto de Rodrigo Monteiro
Volta e meia ouvimos falar em educação financeira e na importância de termos uma
poupança. A conversa é legal, mas como fazer isso se ganho pouco ou sou profissional
liberal e não tenho uma renda certa?
A resposta para isso está na Educação Financeira, que nada mais é aprender como lidar
com o dinheiro de uma forma consciente. Certamente todos já devem ter ouvido o ditado
“Dinheiro não aceita desaforo!” E é isso mesmo. Se você não souber lidar com o dinheiro,
certamente, em algum momento você terá, ou já teve, problemas com dinheiro. Uma
conta que não conseguiu pagar, aquela fatura do cartão de crédito que foi acumulando
juros, aquele crediário que “sujou seu nome”, e outras coisas do tipo.
A Educação Financeira deve oferecer as pessoas os conhecimentos e, principalmente, gerar
hábitos que levem ao uso racional do dinheiro, de maneira que se atinja bem estar. O
dinheiro deve ser um meio de alegria para a pessoa e não de sofrimento. A conversa está
boa, mas como fazer isso?
A primeira coisa é saber onde você gasta seu dinheiro. Para isso é importante você anotar
tudo, desde o cafezinho que você toma na padaria da esquina até os gastos mensais, como
aluguel, faturas de cartões, alimentação, luz etc. A partir desse levantamento você
conhecerá realmente quais são os seus gastos.
Feito esse levantamento, a segunda coisa a se fazer é uma classificação desses gastos.
Você deve agrupar seus gastos em grandes blocos como MORADIA, ALIMENTAÇÃO,
DIVERSÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE etc. A divisão e a alocação em blocos vão
variar de pessoa para pessoa, de família para família. Essa classificação é importante
porque vai te ajudar a identificar gastos desnecessários. Por incrível que pareça, você verá
que eles ocorrem com mais frequência do que você pensa!
Classificados os seus gastos, a terceira coisa a se fazer é identificar onde se pode poupar.
Existem gastos que não temos como cortar, apenas racionalizar o seu consumo, como energia elétrica, alimentação e transporte. Mas outros são coisas que, muitas vezes, compramos por impulso, seja por uma propaganda, seja por um desejo
momentâneo.
Vamos chamar de obrigatórios os gastos que não podemos cortar e devemos buscar uma forma de economizar em seu uso. Hábitos como apagar as luzes dos cômodos vazios usar a água de forma mais econômica, não deixando a torneira sempre aberta quando se lava louças ou se escova os dentes, fazer uma lista de compras ao ir ao supermercado, para evitar comprar mais que o necessário, usar o transporte solidário para o trabalho com amigos que moram perto, ou melhor, preferir o transporte público ao transporte individual, são formas de economizar nos gastos obrigatórios.
Já nos demais gastos, que podemos chamar de eventuais, devemos pensar se efetivamente eles são necessários. Precisamos fazer essa compra? Precisa ser nesse momento? Será que preciso mesmo dessa roupa nova agora? Para isso eu gosto da regra das 3 vezes se você passar pelo produto três vezes e todas as vezes achar que realmente tem a necessidade do produto, é sinal que efetivamente necessita comprá-lo. Caso essa vontade passe depois da primeira vez, era apenas um impulso. A classificação será fundamental para você identificar onde poderá poupar. E, também onde você poderá fazer algum sacrifício para a realização de um sonho.
Por fim, uma vez iniciado o hábito de poupar, deve-se traçar uma meta para o dinheiro
poupado. A compra de um eletrodoméstico, a troca do carro, uma viagem de fim de ano
com a família, formar uma reserva de emergência etc. Essa meta é fundamental para
incentivar a poupança mensal. E aí é começar a aplicar essas economias para aproveitar os
efeitos dos juros compostos (juros sobre juros), onde o dinheiro começará a trabalhar para
você.
Agora, se você estiver endividado, algumas dicas podem ser uteis para sair dessa situação:
1) classifique suas dívidas por taxas, das mais altas para as mais baixas; 2) busque
negociar suas dívidas. Seja claro com seus credores que sua situação financeira está
complicada e que você não poderá pagar a dívida na integridade. Ninguém quer correr o
risco de não receber e assim eles irão negociar. Aproveite os mutirões de renegociação que
acontecem regularmente.
Muito importante: em momentos de crise, os cortes terão que ser radicais. Gastos com
lazer, o cafezinho, almoços fora de casa e tudo o mais que puder ser cortado, deverá ser
excluído. Não parcele a fatura do seu cartão de crédito. Se for necessário, troque uma
dívida mais cara por outra mais barata.
Enfim, são esses os pontos que queria trazer para você sobre a Educação Financeira.
Espero que essas dicas ajudem você a melhorar sua relação com o dinheiro, lembrando
ainda que elas valem tanto para a pessoa física, como para profissionais liberais e
pequenos empreendedores.
E, também é importante, que a ideia de educação financeira comece desde criança. Dar
uma mesada para as crianças e educá-las como administrar esse dinheiro é fundamental
para que tenha, num futuro, um adolescente e um adulto que saiba lidar de forma
consciente com o dinheiro.
Finalmente, a chave para poupar está em gastar menos do que se ganha. Pode parecer
difícil, mas fazendo um controle dos seus gastos você verá que o segredo não está no
quanto você ganha, mas sim no quanto você gasta.
Texto de Rodrigo Monteiro, 54 anos.
Economista, pós graduado em contabilidade e auditoria e em normas internacionais de contabilidade. Servidor público concursado do Banco Central há 29 anos. Atualmente é Coordenador Geral de Administração da Imprensa Nacional.
Comments