Taxa Selic, Copom, Meta de Inflação, custo de vida, emprego, investimentos, Banco
Central, Conselho Monetário Nacional, política monetária, poder de compra, são frases
que ouvimos no nosso dia a dia e nem sempre temos a sua clara compreensão. Mas
que afetam muito a nossa vida.
Os juros, ou de uma forma mais clara, o custo do dinheiro, é o que você recebe por
deixar de consumir hoje e colocar seus recursos para render, em uma aplicação
financeira, como uma caderneta de poupança, por exemplo. É claro que, se você deixa
de comprar algo hoje, espera ter no futuro um valor que lhe permita comprar mais do
que compraria hoje. Essa é a sua recompensa por poupar. E, quanto maior for o tempo
que você decidir poupar, maior deverá ser esse juro que você irá receber no futuro.
Agora, vamos entender um pouco sobre alguns agentes que atuam no que se costuma
se chamar de sistema econômico. O Conselho Monetário Nacional é responsável por
regular todo o Sistema Financeiro Nacional, e, também, definir a meta de inflação. Ou
seja, esse órgão, composto pelo ministro da Fazenda, pelo ministro do Planejamento e
pelo presidente do Banco Central, estabelece qual a taxa de inflação que o Banco
Central deve perseguir, utilizando seus instrumentos de política monetária.
Os juros são como um remédio forte quando estamos doentes. Ele cura, mas tem muitos efeitos colaterais. Juros elevados dificultam o consumo, as decisões de investimento e o crescimento do país
Uma das principais ferramentas à disposição do Banco Central é a Meta Selic, que, em
uma definição simples, é a taxa básica de juros que influencia todo os juros praticados
no Brasil. Assim, os diretores do Banco Central se reúnem a cada 45 dias e analisam
diversos fatores como o que está acontecendo no exterior, o que está ocorrendo no
País, como está o crédito, o mercado de trabalho etc. Além da Meta Selic, o Banco
Central pode utilizar os Recolhimentos Compulsórios sobre Depósitos, que é uma parte
que é recolhida sobre, por exemplo, o depósito que você faz em sua conta corrente ou
de poupança.
Mas aí você pode perguntar, mas o que que tem a ver juros com a inflação? A taxa de
juros é o instrumento de política monetária que mais tem efeitos sobre a inflação.
Quanto mais alta a taxa de juros, mais caro fica o crédito, mais caro fica investir e mais
caro fica consumir.
Um empresário para decidir montar uma empresa, na maioria das vezes, precisa de
financiamento, precisa de crédito. E se esse crédito for caro, maior deverá ser o lucro
que ele deverá obter em suas vendas para conseguir honrar suas dívidas. Mas um
empresário não pode fixar livremente seus preços, pois existe concorrência, hoje,
principalmente de produtos chineses. Nesse sentido, a taxa de juros é primordial para
a decisão de um investimento em uma empresa. Uma pessoa só vai abrir um negócio se tiver uma boa certeza de que esse negócio vai dar certo. E os juros influenciam de forma decisiva nessa decisão.
Um país que tenha uma taxa de juros baixa, e que tenha muitas coisas a serem feitas,
como o Brasil, por exemplo, que necessita de muitos investimentos em infraestrutura,
como a construção de estradas, de portos, linhas ferroviárias, renovação da frota de
caminhões, que é muito antiga, linhas de energia elétrica, entre outros, tem grandes
possibilidades de aumentar significativamente seus investimentos com grandes
impactos na criação de empregos. Juros em nível mais baixo, maiores investimentos e
mais empregos.
E, no seu dia a dia, com juros altos, caso você não disponha de recursos poupados, vai
elevar o preço de crédito. Assim, aquele projeto de construção ou reforma da casa, a
troca de um eletrodoméstico, o sonho de um carrinho novo, tudo fica mais caro, e
mais difícil, se a diretoria do Banco Central fixa uma Meta Selic em um patamar mais
elevado.
Os juros são como um remédio forte quando estamos doentes. Ele cura, mas tem
muitos efeitos colaterais. Juros elevados dificultam o consumo presente, dificultam as
decisões de investimento, dificultam o crescimento do país.
Mas são só os juros que afetam o meu dia a dia? Não. A inflação é um grande problema. Os economistas, aquele pessoal que gosta de falar na televisão palavras que ninguém entende, dizem que a inflação é um imposto regressivo, pois ele atinge quem ganha menos. Isso porque ela “come” o poder de compra dos salários todo mês, enquanto os salários só são reajustados uma vez ao ano.
Seja o salário-mínimo, fixado em janeiro de todo o ano, pelo Governo Federal, sejam
os salários de quem trabalha em uma empresa privada, ou mesmo os ganhos de quem
vive por conta própria. Quando se tem uma inflação alta, o que você consegue
comprar ao mês vai se reduzindo ao longo do ano. Além disso, principalmente os
produtos agrícolas, que integram a cesta básica de alimentos, podem sofrer aumentos
significativos por problemas na produção, como secas, geadas, enchentes, pragas,
quebra de safras etc., o que leva a diminuir ainda mais o poder de compra dos salários.
Por tudo isso é que é importante a gente ter uma reserva financeira. Mas como poupar
se eu ganho pouco e tenho tantas despesas?
Bom, esse será o assunto de nossa próxima conversa.
Rodrigo Monteiro é economista, pós-graduado em contabilidade e auditoria e em normas internacionais de contabilidade.
Servidor público concursado do Banco Central há 29 anos, atualmente é Coordenador Geral de Administração da Imprensa Nacional.
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